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Psicoterapeuta |
Quando eu achava que psicólogo era só pra quem "não batia bem"
O preconceito que me ensinaram desde pequeno
Desde muito cedo eu sempre tive um preconceito enraizado com psicólogos e terapeutas. Na minha cabeça, eles estariam sempre querendo saber nossos segredos e falhas para nos julgar e nos diagnosticar ou algo parecido, através de seus julgamentos. Achava que o papel deles era mais ou menos como o de um juiz da mente: alguém que ia encontrar o que há de errado comigo e carimbar isso na testa.
E claro, como alguém que cresceu ouvindo frases como "psicólogo é pra quem não bate bem da cabeça", internalizei que buscar ajuda psicológica era sinônimo de fraqueza. Era coisa pra gente que não dá conta da própria vida. “Médico de maluco”, “terapeuta é só pra quem quer atenção”... essas frases me cercaram por muito tempo.
Como minha visão mudou com a TCC
Mas a vida se encarregou de desmontar, pouco a pouco, essa minha visão distorcida. A dor emocional — minha e do meu filho — me empurrou para um lugar onde o preconceito não servia mais pra nada. E foi aí que descobri o poder transformador da TCC, a Terapia Cognitivo-Comportamental. Uma abordagem que, diferente do que eu imaginava, não te julga: ela te ensina a pensar diferente sobre o que sente, vive e carrega.
A TCC me mostrou que não existe "gente quebrada", mas sim padrões de pensamento que podem ser ajustados com suporte, ferramentas e prática. Isso me deu um alívio imenso. Pela primeira vez, entendi que eu não precisava ser refém das minhas emoções, dos meus impulsos, das minhas crenças negativas. E isso, pra alguém neurodivergente como eu, fez toda a diferença.
Psiquiatras não são médicos de malucos
A importância do diagnóstico certo
Demorei para aceitar a ideia de procurar um psiquiatra. Assim como com os psicólogos, havia um bloqueio. A gente cresce ouvindo que psiquiatra é o "último recurso", o "fim da linha". Mas quando finalmente entrei em um consultório, percebi o quanto essa visão era errada — e perigosa.
O diagnóstico correto pode salvar vidas. Literalmente. E isso não é exagero. Durante muito tempo, eu achava que meus surtos de irritação extrema, minha tristeza que durava semanas e minha impulsividade eram apenas "parte da minha personalidade". Depois descobri que aquilo tinha nome: transtorno bipolar. Sem o diagnóstico, eu continuaria acreditando que o problema era meu caráter.
Tomar remédio não é fraqueza — é autocuidado
Começar a medicação foi outro tabu vencido com muito custo. Existe uma resistência social muito grande com remédios psiquiátricos. “Vai ficar viciado”, “isso muda sua personalidade”, “você não vai mais ser você mesmo”.
A verdade é que, para quem tem um transtorno mental diagnosticado, medicação é tão necessária quanto insulina para um diabético. E isso é respaldado por dados científicos — como no estudo que me serviu de base, publicado na Frontiers in Psychology, que mostra como a combinação entre medicamentos e psicoterapia é altamente eficaz, especialmente para transtornos complexos como depressão resistente, ansiedade crônica e bipolaridade.
Depois de ajustar a dosagem e acertar o medicamento com meu psiquiatra, minha vida começou a voltar aos trilhos. Não fiquei "robotizado", como muitos dizem. Fiquei mais eu mesmo do que nunca. Consegui ouvir minha mente sem tanto barulho.
O que aprendi com a ciência e com meu filho
Somos neurodivergentes e precisamos de suporte real
Meu filho, assim como eu, é neurodivergente. Isso significa que o cérebro dele funciona de forma diferente da média — e isso não é uma falha, é uma variação natural. No nosso caso, estamos falando de TDAH, transtorno bipolar e características de autismo leve.
A diferença entre sofrer calado e aprender a conviver com isso está, quase sempre, no acesso à informação e à ajuda profissional. A ciência mostra, como no artigo que li com atenção, que intervenções baseadas na TCC ajudam não só a tratar sintomas, mas também a desenvolver habilidades sociais, emocionais e cognitivas importantes.
Ver meu filho avançar com o apoio de um bom psicólogo foi emocionante. E perceber que a TCC não era só eficaz, mas também humanizada, foi libertador. Ninguém o tratou como um problema. Pelo contrário, os terapeutas o ajudaram a se enxergar como alguém com um funcionamento único — e isso é lindo.
Psicoterapia não é só "bater papo"
Esse é outro mito que eu carregava: a ideia de que psicoterapia era só uma conversa jogada fora. "Pagar pra conversar com alguém" parecia absurdo. Mas na prática, percebi que conversar com método e direção transforma a vida.
A TCC, por exemplo, ensina a identificar distorções cognitivas. Coisas como "tudo dá errado comigo", "eu nunca faço nada certo", "ninguém se importa comigo" — frases automáticas que, quando não são questionadas, nos levam ao buraco.
Durante as sessões, aprendi a parar, observar meus pensamentos, desafiá-los e reconstruí-los. Aprendi a notar os gatilhos do meu humor e, mais do que isso, a agir com mais consciência e menos impulso.
Se você ainda tem medo de procurar ajuda, leia isso
TCC funciona de verdade — e eu sou a prova
Não estou aqui para vender fórmula mágica. Não existe milagre na saúde mental. Mas posso te afirmar, com a sinceridade de quem já desacreditou de tudo: a Terapia Cognitivo-Comportamental funciona.
Ela é baseada em evidências, tem metodologia clara e, o mais importante, trata o paciente como sujeito, não como rótulo. Você participa do processo. Você aprende sobre você. Você evolui com ferramentas reais.
No artigo que me inspirou, os pesquisadores mostraram como a TCC tem efeito direto em reduzir sintomas de depressão e ansiedade, mesmo em pacientes com resistência ao tratamento. Isso porque ela atua na forma como interpretamos a realidade, e não apenas na emoção em si.
Foi com essa abordagem que eu aprendi, por exemplo, que o pensamento "ninguém me entende" não era um fato — era uma percepção influenciada pelo meu estado emocional. E mudar essa percepção mudou tudo.
Não espere a dor virar trauma pra pedir socorro
Se tem algo que eu gostaria de dizer ao meu "eu" de 10 anos atrás é: você não precisa esperar desmoronar pra pedir ajuda. E eu digo o mesmo pra você, que está lendo até aqui.
A dor emocional é tão válida quanto uma dor física. E assim como a gente vai ao médico quando sente uma dor no peito ou na perna, devemos procurar psicólogos e psiquiatras quando o sofrimento é interno.
Quanto mais cedo você busca ajuda, menos cicatrizes emocionais carrega. E se já carrega algumas — tudo bem. Cicatriz também é sinal de sobrevivência. Mas você merece viver com mais leveza, mais lucidez e mais cuidado.
Considerações finais: informação, acolhimento e coragem
Hoje eu sei que muito do preconceito que eu tinha vinha da falta de conhecimento. E não me culpo por isso — o estigma em torno da saúde mental é social, histórico, enraizado. Mas é nosso dever quebrar esse ciclo, principalmente quando a gente sente na pele o peso de viver sem ajuda.
Se você se identificou com alguma parte desse texto, meu conselho é simples: não lute sozinho(a). Procure um psicólogo. Visite um psiquiatra. Faça uma sessão de TCC. Pergunte. Leia. Converse. É assim que começa o processo de cuidar da mente.
A vida não vai ficar perfeita. Mas ela fica mais habitável. Mais gentil. Mais sua.
E isso, pra mim, vale mais do que qualquer preconceito bobo que um dia eu tive.