Como Fazer?
Receber um diagnóstico de transtorno bipolar pode dar a sensação de estar sozinho. Mas não precisa ser assim.
Contar com uma rede de apoio — familiares, amigos e pessoas de confiança — ajuda a lidar com a condição e a viver de forma mais saudável. Para que eles realmente apoiem você, vale conversar e explicar que tipo de suporte você precisa.
Dicas para conversar com quem você ama
Ao dividir o diagnóstico ou pedir ajuda, procure ser direto e específico sobre suas necessidades.
Pense bem no momento de contar
Antes de abrir o assunto, escolha um momento em que você e a outra pessoa estejam tranquilos. Como orientam profissionais de saúde mental, depois de um dia muito estressante a chance de uma boa reação costuma ser menor.
Em seguida, defina quanto deseja compartilhar. Isso pode variar conforme a proximidade e a confiança na relação.
Se preferir, vá pelo simples. Uma explicação curta, como a ideia abaixo, costuma ajudar:
O transtorno bipolar — antes chamado de psicose maníaco-depressiva — é uma condição contínua que aparece em fases. Em alguns períodos, meu humor, minha energia, meu sono e minha concentração podem mudar bastante.
Também é possível acrescentar detalhes pessoais. Uma psicóloga clínica sugere explicar os dois polos da condição de forma clara:
- Mania: em fases de mania, a alegria pode escalar para euforia e irritação. Posso ficar acelerado, agir por impulso e correr riscos; em alguns casos, podem surgir alucinações. É como se o “bom” passasse do ponto.
- Depressão: no outro extremo, a tristeza fica tão intensa que tarefas simples parecem pesadas. A sensação é de estar num “buraco” profundo, que atrapalha minhas atividades.
- Sintomas gerais: esses altos e baixos podem durar dias ou semanas. Não é apenas mau humor; há mudanças fortes na energia, na rotina e no sono. Sem tratamento, mania e depressão tendem a piorar, então preciso seguir as orientações do meu médico.
Não leve respostas negativas para o lado pessoal
Se alguém reagir mal ou a conversa não fluir, procure não levar para o lado pessoal, como orientam terapeutas.
Lembre-se: a reação do outro nem sempre é sobre você. A pessoa pode ter ideias antigas sobre o transtorno bipolar ou simplesmente não conhecer o assunto.
Para ajudar sua família a entender melhor, sugira pesquisar aqui no Viver Bipolar, já que eu procuro "Traduzir" do vocabulário técnico para um mais popular e inteligível.
Explique seus sinais de alerta
Especialistas recomendam criar uma lista com seus sinais de alerta e compartilhá-la com pessoas próximas.
Assim, elas podem observar mudanças no humor, no comportamento ou na forma de falar e dar um retorno mais objetivo.
Alguns sinais de que um episódio de mania pode estar se aproximando incluem:
- Ir dormir cada vez mais tarde.
- Pular refeições ou esquecer de comer.
- Fala muito acelerada.
- Iniciar mais projetos do que consegue concluir.
Conversem sobre as melhores abordagens
Se você começar a descuidar da saúde ou notar sintomas, como prefere que a família toque no assunto? Vale definir se você quer lembretes diários, um aviso sutil ou uma conversa mais direta.
Combine isso antes, para que sua rede de apoio saiba como agir. Um acordo simples pode ajudar: “Me avise se perceber que estou indo dormir muito tarde”.
Também vale simular alguns cenários e combinar como cada um reagiria, como em um simulado.
Use mensagens na primeira pessoa ("Eu sinto")
Se algo não estiver ajudando, uma estrutura útil é: “Eu me sinto [emoção] quando você [ação específica]. Podemos, por favor, [solução proposta]?”
Exemplo: “Eu adoro o quanto você quer me apoiar e sou grato por isso. Mas, às vezes, fico frustrado quando você conta para sua mãe sobre minhas sessões de terapia. Será que podemos manter isso entre nós?”
Por que o apoio é tão importante?
Ter uma comunidade por perto faz diferença. Um estudo com 312 pessoas com transtorno bipolar mostrou que quem convivia com família e amigos tinha maiores taxas de recuperação.
Outro estudo, com 100 pessoas, indicou que mais apoio social se associou a:
- Episódios de humor mais curtos.
- Mais capacidade de realizar tarefas.
- Menos sintomas de depressão.
- Menos tempo até iniciar um tratamento regular.
Uma grande ajuda da rede de apoio é perceber sinais de alerta que você talvez não note.
No começo de uma fase de hipomania ou mania, por exemplo, muitas pessoas se sentem cheias de energia, confiantes e produtivas — especialmente após uma fase depressiva.
A psicose, que pode ocorrer no transtorno bipolar, também altera a capacidade de distinguir o que é real. Parceiro, pais ou amigos próximos podem notar esses sinais e ajudar você a buscar suporte, como um ajuste na medicação.
Como usar sua rede de apoio
Depois de conversar sobre o diagnóstico, veja como aproveitar esses relacionamentos a seu favor.
Vão a uma consulta juntos
Como em qualquer condição de saúde, você pode marcar uma consulta com um terapeuta ou médico e convidar sua família.
Nessa conversa, a pessoa pode tirar dúvidas sobre o diagnóstico e entender formas práticas de ajudar.
Em atendimentos com pacientes e famílias, costuma-se reforçar a importância de manter uma rotina de sono e reduzir o estresse — dois gatilhos comuns para episódios de humor, conforme a fonte indicada nas referências.
Para algumas famílias, isso envolve ajustar expectativas e firmar combinados, como evitar que um pai com transtorno bipolar passe a noite em claro com um recém-nascido chorando.
Pense em quem você precisa em cada momento
Pessoas diferentes ajudam de jeitos diferentes — por isso, vale definir quem é a melhor pessoa para agir numa crise e servir como seu contato de emergência.
Identificar quem faz o quê evita confusões. Quando todo mundo sabe o que fazer, fica mais fácil se preparar e agir.
Você pode pedir a diferentes pessoas para:
- Acompanhar você em caminhadas diárias.
- Levar você às consultas de terapia.
- Checar se você tomou a medicação.
- Ir com você a uma reunião de um programa de recuperação, como o AA.
Tenham um plano claro
O apoio é ainda mais importante quando os sintomas evoluem para um episódio completo. Junto com seu terapeuta, crie um plano de segurança personalizado e entregue uma cópia a cada pessoa da sua rede de apoio — é recomendado.
Seu plano de segurança pode incluir:
- Passos claros sobre o que fazer em caso de emergência.
- Quem deve ser contatado e envolvido nas decisões sobre o cuidado.
Há um modelo de plano de crise em PDF (em inglês) que você pode preencher e imprimir.
O que levar disso tudo
Se você tem transtorno bipolar, contar com uma rede de apoio é vital para lidar bem com a condição.
Pessoas queridas podem notar sinais de um novo episódio antes de você. Elas também ajudam a manter hábitos saudáveis, tomar a medicação e buscar ajuda em uma crise.
Quando estiver pronto para falar sobre o diagnóstico ou pedir suporte, explique de forma clara como o transtorno bipolar afeta você e qual ajuda funciona melhor.
Referências
- Estudos e fontes:
- Estudo com 312 pessoas (Family and friend involvement in recovery from bipolar disorder)
- Estudo com 100 pessoas (Social support and the course of bipolar disorder)
- Ferramentas:
- Use o nosso Diário de Emoções