O Impacto do Sono no TAB: Nossa Batalha Noturna

TAB e Sono


O Impacto do Sono no TAB: Nossa Batalha Noturna

Minha Jornada com o Sono e o TAB: Uma Luta Antiga

Desde a minha adolescência, o sono e eu temos uma relação complicada. Já contei em outro Post que meus primeiros sintomas do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) começaram a aparecer bem cedo. Eu sempre fui um leitor voraz, daqueles que devoram livros noite adentro, e isso me causava sérios problemas para acordar a tempo para a escola e, mais tarde, para o trabalho.

A Escuridão da Madrugada e a Fuga na Dependência

A perda do meu pai foi um golpe muito duro, um trauma que já mencionei antes. Depois disso, mergulhei de cabeça na bebida e, logo em seguida, no mundo das drogas. Rapidamente, perdi o controle do meu uso e qualquer noção de um horário de sono. Eu dormia tarde, ou só quando o sol já estava nascendo. E quando estava sob o efeito de drogas estimulantes, chegava a ficar três ou quatro dias seguidos sem pregar os olhos.

Naquela época, falar sobre saúde mental era um tabu enorme. As famílias escondiam os parentes que recebiam diagnósticos como a “Psicose Maníaco-Depressiva”, nome antigo para o que hoje conhecemos como TAB. Eu, que nunca tinha ouvido falar de nada disso, achava que meu jeito de ser era o meu normal.

O Despertar sem Anestesia: A Mente Acelerada

Insônia

Depois que consegui parar com as drogas, a insônia continuou terrível. Mas agora, sem a anestesia do álcool ou das drogas, comecei a perceber que meu cérebro simplesmente não seguia um ritmo normal. Meu corpo estava exausto, mas minha mente se recusava a desacelerar; na verdade, ela acelerava ainda mais. Eram os pensamentos acelerados, que já descrevi em outro post. Tinha noites em que parecia que uma multidão inteira estava conversando dentro da minha cabeça, todos ao mesmo tempo. Em outras, meus problemas e dificuldades não paravam de me assombrar. Quando eu usava drogas, eu as usava para conseguir dormir, mas nem percebia isso na época. Só fui notar esse padrão quando parei de usar.

A Luta Continua, mas com Ajuda da Ciência

Essa dificuldade com o sono ainda é um problema para mim hoje. Claro, depois de mais de 20 anos de tratamento, a situação melhorou muito. Ainda preciso tomar algum remédio para dormir de vez em quando, mas não é tão frequente como era no passado. Este post é justamente para você que busca uma solução ou que, por acaso, chegou aqui por causa de problemas semelhantes relacionados ao seu TAB.

Daqui para frente, vou mostrar como a ciência e a medicina abordam esse problema e como elas podem nos ajudar. Sim, a mim ajudou muito. Sei que tenho uma doença que não tem cura, mas que melhorou absurdamente depois que me entreguei completamente ao tratamento. Tenho recaídas emocionais de vez em quando? Sim, é inevitável, pois, como disse, não tem cura. Mas, com certeza, a ajuda do meu psiquiatra melhorou e muito a minha qualidade de vida. Então, vamos lá.

Quando o Relógio Interno Falha: O que Acontece no Nosso Cérebro

Ciclo Circadiano Desregulado


Depois de compartilhar um pouco da minha jornada, imagino que você esteja se perguntando: mas por que tudo isso acontece? Por que o sono simplesmente não funciona como deveria? A verdade é que a resposta, assim como muitas coisas no transtorno bipolar, está escondida nas engrenagens do nosso cérebro. Todos nós temos um relógio interno, conhecido como ritmo circadiano. Ele é o grande maestro que diz ao nosso corpo quando é hora de descansar e quando é hora de despertar, seguindo mais ou menos o ciclo natural de 24 horas.

Noites Virando Dias: A Agitação da Mania e a Batalha contra o Sono

Para quem convive com o Transtorno Bipolar, esse relógio parece estar constantemente dessincronizado. Pesquisas mostram que a forma como nosso corpo regula o sono é simplesmente diferente. E o pior: essa desregulação é uma via de mão dupla. A falta de sono não é apenas um sintoma; ela pode ser um gatilho poderoso. Aquela sensação de energia inesgotável, de que você é capaz de qualquer coisa e não precisa dormir? Isso é a hipomania ou a mania chegando com tudo. Estudos científicos, como os publicados na revista Archives of Clinical Psychiatry, revelam que uma única noite em claro pode ser o suficiente para dar início a um episódio de mania em quem já tem predisposição.

É como se o cérebro simplesmente perdesse o freio. A falta de descanso joga mais lenha na fogueira da euforia, acelerando pensamentos e aumentando a agitação. Por isso, a insônia vai muito além de um simples incômodo; é um sinal de alerta que não podemos ignorar.

O Peso Invisível: Depressão e a Vontade de Dormir Sem Fim

Se na fase de mania a gente briga contra o sono, na depressão bipolar a história é completamente oposta. Aqui, entramos no terreno da hipersonia, uma necessidade de dormir que parece não ter fim. Você pode passar 10, 12 horas ou mais na cama e ainda assim acordar se sentindo esgotado, como se tivesse sido atropelado por um caminhão. O corpo fica pesado, a mente embaçada e a energia some por completo. A cama vira um refúgio, mas um refúgio que não traz o descanso de que precisamos.

Essa necessidade excessiva de sono é um sintoma clássico da fase depressiva do TAB. É o corpo e a mente pedindo socorro, mostrando que o relógio biológico está completamente fora de sintonia. Não se trata de preguiça; é um sintoma neurológico, uma parte da doença que exige tanta atenção quanto a falta de sono na mania.

Conheça a Dor da Depressão

Reconectando os Pontos: Como Regular o Sono e Recuperar o Equilíbrio

Higiene do Sono

Se o nosso relógio interno está desregulado, a boa notícia é que existem maneiras de ajudá-lo a encontrar o ritmo certo. Não é uma solução mágica, como já comentei antes, mas um conjunto de práticas que, com paciência e consistência, fazem uma diferença enorme. Estou falando da higiene do sono e das terapias de regulação do ritmo circadiano.

Pequenos Rituais: A Higiene do Sono no Dia a Dia

A higiene do sono funciona como um guia gentil para reconectar nosso cérebro com o descanso. São hábitos simples que, quando praticados com regularidade, ajudam a acertar o passo do nosso relógio biológico. Coisas como:

  • Estabelecer uma rotina: Tentar dormir e acordar no mesmo horário, mesmo nos fins de semana. Isso ajuda a sincronizar nosso ritmo natural.
  • Criar um ritual para desacelerar: Ler algo leve, tomar um banho morno, ouvir uma música calma. São gestos que sinalizam para o corpo que o dia está terminando.
  • Transformar o quarto em um santuário: Deixar o ambiente escuro e silencioso. A luz, especialmente a azul de celulares e tablets, confunde o cérebro, fazendo-o crer que ainda é dia. O escuro favorece a produção de melatonina, o hormônio do sono.
  • Evitar estimulantes: Café, bebidas energéticas e até exercícios muito intensos perto da hora de dormir podem atrapalhar o processo.

Além dos Hábitos: Terapias para Sincronizar Corpo e Mente

Além dos cuidados com a higiene do sono, existem terapias específicas que nos ajudam a recolocar o ritmo nos eixos. Uma delas é a Terapia Interpessoal e de Ritmo Social (TIRS). O nome parece complexo, mas a ideia é simples: ajudar a manter uma rotina estável não apenas para o sono, mas para todas as atividades do dia—refeições, trabalho, vida social. Uma rotina previsível é um remédio poderoso para estabilizar nosso relógio biológico e, por consequência, nosso humor.

Outra abordagem é a luminoterapia, ou terapia de luz, que usa uma luz especial para ajustar o relógio interno, principalmente em casos de depressão sazonal. Todas essas estratégias, somadas ao tratamento medicamentoso, são peças-chave para conquistar noites mais tranquilas e dias mais estáveis.

Rumo ao Equilíbrio: Noites Restauradoras e Dias com Mais Leveza

Entender como o sono afeta o Transtorno Afetivo Bipolar é um passo enorme em direção a uma vida com mais qualidade. Sei que não é fácil, e a estrada pode ser longa, mas com informação e as ferramentas certas, é possível encontrar um caminho de mais serenidade. Lembre-se: você não está sozinho nessa caminhada. Procurar ajuda profissional e seguir o tratamento com dedicação, incluindo a atenção redobrada ao sono, faz toda a diferença. Seu corpo e sua mente merecem esse cuidado.

Referências Científicas

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