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TAB Tipo I |
Entendendo o Transtorno Bipolar Tipo 1
Quando um nome te joga num abismo
O impacto brutal do diagnóstico
Receber o diagnóstico de Transtorno Bipolar foi, pra mim, como cair de um prédio de dez andares. Eu já sabia que havia algo fora do lugar dentro de mim. Os altos e baixos eram constantes, eu sentia que o mundo girava mais rápido pra mim do que pra todo mundo. Mas eu não sabia colocar em palavras.
O que me jogou pra baixo de vez foi o nome antigo que ainda circulava por aí: "psicose maníaco-depressiva". Cara, esse nome me dava calafrios. Ele me remetia a imagens distorcidas, exageradas, quase como se fosse um castigo divino. A galera fazia piada, usava como xingamento, como se ser bipolar fosse ser louco, instável, perigoso. Era como se minha identidade tivesse sido sequestrada por um rótulo pesado demais pra carregar.
Falo disso no meu artigo Minha história: do caos ao entendimento. Ali eu relato como foi difícil lidar não só com o diagnóstico, mas com o pré-conceito que vem junto com ele. E olha, não era só o preconceito dos outros não. Era o meu também. Eu não entendia o que era o transtorno. Eu não sabia o que significava ser bipolar. E, pior, eu achava que isso era o fim.
A confusão entre os tipos
No começo, nem mesmo o nome correto eu entendia. "Transtorno Afetivo Bipolar"? "Tipo 1"? "Tipo 2"? Isso tudo era grego pra mim. Eu só fui descobrir que existiam diferentes tipos de bipolaridade depois de quase um ano de tratamento. O meu diagnóstico é Tipo 2, com episódios de hipomania e longas fases de depressão.
Mas foi no processo de tentar entender a mim mesmo que eu comecei a estudar também o Transtorno Bipolar Tipo 1. E quanto mais eu lia, mais percebia que o buraco era ainda mais embaixo pra quem vive esse tipo de bipolaridade. Por isso, decidi escrever este artigo com uma linguagem direta, humana, sem jargões técnicos. Porque nós, pacientes, também temos o direito de entender o que se passa com a gente — sem precisar ser médico.
O que é, de fato, o Transtorno Bipolar Tipo 1?
Não é só euforia: é mania
Segundo o DSM-5-TR, o manual oficial da psiquiatria, um episódio maníaco precisa durar pelo menos 7 dias, com três ou mais dos seguintes sintomas:
- autoestima inflada (delírios de grandiosidade);
- redução drástica da necessidade de sono;
- fala acelerada, muitas vezes impossível de interromper;
- pensamentos que pulam de um assunto pra outro;
- distração fácil com estímulos externos;
- aumento de atividades direcionadas a objetivos (mesmo sem lógica);
- envolvimento em atividades de alto risco (gastos excessivos, sexo sem proteção, decisões impulsivas).
Fonte: American Psychiatric Association – DSM-5-TR
Quando a realidade se rompe: psicose maníaca
Em alguns casos, a pessoa entra em um estado de delírio completo. Ela acredita, por exemplo, que tem uma missão divina, que está sendo perseguida pelo governo, ou que recebeu uma mensagem dos anjos. É o que chamamos de mania com sintomas psicóticos. Isso não é exagero. É real. É assustador. E é perigoso.
Quando a psicose se instala, a pessoa perde completamente o senso da realidade. E, por isso, muitas vezes precisa ser hospitalizada. Não por punição, mas por segurança — tanto dela quanto de quem está ao redor.
Depois do voo, a queda: a depressão no tipo 1
O arrependimento vem com força
Uma das coisas mais cruéis do Transtorno Bipolar Tipo 1 é o que vem depois da mania. Quando o episódio passa, a pessoa percebe tudo o que fez. As dívidas. As mensagens. Os impulsos. As consequências. E aí vem o arrependimento, a vergonha, o isolamento.
É comum que a pessoa caia em uma depressão profunda após um episódio maníaco. E essa depressão é diferente da tristeza comum. É uma sensação de vazio existencial. De falha completa. De não querer mais estar vivo.
O cérebro bipolar é um campo de batalha
Viver com Transtorno Bipolar Tipo 1 é como viver com um vulcão dentro da cabeça. Você nunca sabe quando ele vai entrar em erupção. Mas quando entra, destrói tudo em volta. E, quando finalmente acalma, você se vê sozinho, tentando reconstruir o que sobrou.
Tratamento, autocuidado e esperança
O lítio ainda é o rei
O lítio é o medicamento mais usado e mais estudado no tratamento do Transtorno Bipolar Tipo 1. Ele atua como estabilizador de humor, ajudando a prevenir tanto a mania quanto a depressão. Também reduz significativamente o risco de suicídio.
🚩Conheça a história do uso do Lítio
Estudo: Geddes JR et al. (2004) – Long-term lithium therapy for bipolar disorder
Outros medicamentos comuns:
- valproato de sódio (Depakene);
- lamotrigina (Lamictal);
- carbamazepina (Tegretol);
- antipsicóticos como quetiapina ou olanzapina.
Psicoterapia: não é opcional, é essencial
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a mais indicada para pacientes bipolares. Ela ajuda a reconhecer sinais de recaída, lidar com pensamentos distorcidos e criar estratégias de autocuidado.
💓Veja como a Psicoterapia é importante no meu tratamento
Estudo: Miklowitz DJ (2007) – Psychosocial treatments for bipolar disorder
Considerações finais
Viver com Transtorno Bipolar Tipo 1 não é fácil. Mas também não é uma sentença. Com o tratamento certo, informação de qualidade e rede de apoio, é possível viver com dignidade, afeto e até momentos de verdadeira felicidade.
Eu não sou médico. Eu sou paciente. Mas sou um paciente que estudou, que vive, que sente. E que escreve pra dizer: não desista de você.
Fontes científicas:
- DSM-5-TR – American Psychiatric Association
- Geddes JR et al. (2004) – American Journal of Psychiatry
- Stahl EA et al. (2019) – Nature Genetics
- Miklowitz DJ. (2007) – Journal of Clinical Psychiatry